Como fazer recurso de multa: passo a passo

Nicholas Rodrigues
October 28, 2024

Ser notificado com uma multa de trânsito é desconfortável e gera uma série de consequências, não somente financeiras. Em muitos casos a penalidade foi aplicada de forma injusta ou incorreta e há possibilidade de contestá-la. Entender como fazer recurso de multa é fundamental para assegurar que seus direitos sejam preservados.

O recurso de multa é uma forma eficaz de corrigir erros na emissão da penalidade, como falhas na sinalização, problemas com os dispositivos de fiscalização ou até mesmo a aplicação incorreta da multa. Nesse texto, vamos explorar todo o processo de recurso, fornecendo orientações e dicas valiosas para que você possa estruturar um pedido com maior chance de sucesso e evitar transtornos futuros.

O que é um recurso de multa?

Um recurso de multa é o instrumento legal que permite ao condutor contestar uma penalidade de trânsito que julgue incorreta ou injusta. Previsto na legislação brasileira, mais especificamente no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o recurso é um direito garantido a todo cidadão que recebeu uma autuação.

Ao receber uma multa de trânsito, o motorista não é automaticamente considerado culpado; ele tem a oportunidade de apresentar sua defesa e expor os motivos pelos quais acredita que a infração não deve ser mantida. 

O recurso de multa pode ser solicitado em diferentes situações, como em casos de erro no preenchimento da autuação, falhas em equipamentos de fiscalização, sinalização inadequada ou até mesmo quando o veículo estava sob responsabilidade de outro condutor no momento da infração. 

Além disso, é importante ressaltar que, ao recorrer, o cidadão não está apenas exercendo um direito, mas também contribuindo para que o sistema de fiscalização seja mais justo e eficiente.

A apresentação desse recurso pode ser feita em várias instâncias, como na Junta Administrativa de Recursos de Infrações (JARI) ou em instâncias superiores, como o CETRAN (Conselho Estadual de Trânsito), conforme as etapas previstas pelo CTB.

Como funciona o processo de recurso de multa?

Desde o momento em que o motorista recebe a notificação de infração até a decisão final, o processo de recurso de multa segue etapas claras e bem definidas pelo CTB, garantindo a possibilidade de revisão e correção de possíveis erros na aplicação da multa.

Entenda cada uma das etapas: 

1. Recebimento da notificação de infração

O processo de recurso se inicia com o recebimento da notificação de autuação. Esse documento, enviado pelos órgãos de trânsito responsáveis, informa o condutor sobre a infração cometida, os dados da multa (data, hora, local) e as instruções para apresentação de defesa. A partir dessa notificação, o motorista tem o direito de recorrer antes que a multa seja efetivada.

2. Defesa prévia (recurso em 1ª instância)

A primeira oportunidade de contestar a multa é por meio da Defesa Prévia, que pode ser apresentada logo após o recebimento da notificação. O prazo para essa etapa está indicado no documento e, geralmente, é de 30 dias. Nesta fase, o condutor pode apontar irregularidades formais, como erros no preenchimento da autuação (dados incorretos, placas erradas, entre outros), além de questionar a legalidade da infração com base em provas.

A Defesa Prévia é encaminhada ao órgão autuador, e se for acatada, a multa pode ser cancelada antes mesmo de ser emitida. Caso a defesa seja indeferida, o condutor recebe a notificação da multa, o que dá início à próxima fase do processo.

3. Recurso à JARI (Recurso em 2ª Instância)

Se a Defesa Prévia não for aceita, o motorista ainda tem o direito de recorrer à Junta Administrativa de Recursos de Infrações (JARI), que atua como instância de julgamento. O prazo para essa nova etapa também costuma ser de 30 dias, contados a partir do recebimento da notificação de penalidade.

Neste ponto, o condutor deve apresentar um recurso mais detalhado, com argumentos consistentes, provas adicionais (como fotos, vídeos, documentos) e embasamento legal. 

A JARI é composta por membros especializados que julgam o recurso com base nas evidências apresentadas e nas normas do CTB. Se o recurso for acolhido, a multa é anulada e o condutor não sofre as penalidades, como a perda de pontos na CNH ou o pagamento da multa.

4. Recurso ao CETRAN (Instância Superior)

Caso o recurso seja negado pela JARI, o condutor ainda pode recorrer à última instância administrativa, o Conselho Estadual de Trânsito (CETRAN), em nível estadual, ou ao Conselho de Trânsito do Distrito Federal (CONTRANDIFE), no caso de Brasília. Essa etapa é conhecida como Recurso em 2ª Instância, e também deve ser realizada dentro do prazo legal, geralmente de 30 dias após a negativa da JARI.

O recurso ao CETRAN é uma nova oportunidade de revisão do caso, e, assim como nas fases anteriores, o condutor pode apresentar provas e argumentos que justifiquem o cancelamento da penalidade. Se o recurso for aceito, a multa é cancelada, mas se for negado, o processo administrativo se encerra e a multa permanece válida.

5. Acompanhamento do processo

Ao longo de todas essas etapas, o condutor pode acompanhar o andamento do recurso junto ao órgão autuador ou pelo site oficial do Detran ou CETRAN do seu estado. É fundamental seguir todos os prazos e fornecer a documentação correta para evitar o indeferimento do recurso por questões formais.

Documentos necessários para fazer o recurso de multa

Para que o recurso de multa seja apresentado de forma adequada e tenha maiores chances de ser aceito, é fundamental reunir a documentação correta. Abaixo, listamos os principais documentos exigidos para entrar com o recurso e a importância de cada um deles:

Cópia da notificação da multa

A notificação de autuação é o documento mais importante no processo de recurso. Ela contém informações essenciais sobre a infração, como data, hora, local e tipo de infração. É através deste documento que o condutor poderá embasar sua defesa, portanto, é imprescindível apresentá-la na íntegra e em boa qualidade.

Cópia da CNH (Carteira Nacional de Habilitação)

A apresentação da cópia da CNH é obrigatória, pois identifica o condutor responsável pela infração. Além disso, o documento permite verificar se o motorista possui as habilitações adequadas e se está em situação regular perante o sistema de trânsito. A ausência desse documento pode levar ao indeferimento do recurso.

Cópia do CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo)

O CRLV é necessário para comprovar a propriedade do veículo e sua regularidade. Esse documento deve ser apresentado para que a defesa do condutor tenha um contexto adequado, especialmente em situações em que a infração é contestada por erro de identificação do veículo.

Comprovantes Adicionais

Dependendo da situação da infração, pode ser necessário anexar documentos adicionais, como:

  • Provas fotográficas ou vídeos: se houver dúvidas sobre a infração ou se o motorista acredita que a multa foi aplicada incorretamente, imagens que comprovem a sua argumentação podem ser muito úteis.
  • Declaração de testemunhas: se houver testemunhas que possam corroborar a versão do condutor, suas declarações devem ser incluídas.
  • Laudos técnicos: em casos onde a fiscalização envolve equipamentos (como radares), laudos que atestem a validade do equipamento ou falhas em sua operação podem ser solicitados.

Importância da documentação correta

A apresentação de todos esses documentos é crucial para o sucesso do recurso de multa. Cada um deles serve para embasar a argumentação e demonstrar a regularidade do condutor e do veículo. A falta de qualquer documento pode resultar na rejeição do recurso, não importando a solidez dos argumentos apresentados.

Além disso, é importante garantir que todos os documentos estejam legíveis, atualizados e corretos, pois qualquer erro de preenchimento ou dados inconsistentes pode ser usado contra o motorista. Uma apresentação clara e organizada dos documentos pode facilitar a análise por parte dos órgãos competentes, aumentando as chances de uma decisão favorável.

Passo a passo de como fazer recurso de multa

Recorrer de uma multa de trânsito pode parecer uma tarefa intimidadora, mas seguindo um passo a passo bem estruturado, você poderá apresentar uma defesa eficaz. O primeiro passo é ler cuidadosamente a notificação de autuação. Este documento contém informações essenciais, como a data, o tipo de infração e a base legal para a penalidade

Preste atenção aos detalhes, pois a leitura atenta pode revelar erros que você pode utilizar a seu favor. Verifique se a notificação contém todos os dados corretos, como seu nome, a placa do veículo e a descrição da infração. Qualquer erro pode ser um ponto de partida para sua argumentação.

Com a notificação em mãos, o próximo passo é coletar todos os documentos necessários. Organize esses documentos de forma que fiquem fáceis de consultar e apresentar, garantindo que não faltem informações importantes para a sua defesa.

Agora é hora de redigir o recurso. Este passo é crucial e exige atenção especial. Aqui estão algumas dicas para criar uma argumentação clara e objetiva:

  • Comece com a identificação: inclua seus dados pessoais, como nome completo, número da CNH, e dados do veículo, como a placa e o número do Renavam.
  • Seja conciso: apresente seus argumentos de maneira direta. Evite rodeios e vá direto ao ponto, explicando por que você considera a multa injusta ou incorreta.
  • Baseie-se em fatos e leis.
  • Inclua provas sempre que possível, anexando as evidências que coletou. 

Lembre-se de manter um tom respeitoso e profissional, mesmo que você esteja se sentindo injustiçado.

Com o recurso redigido e todos os documentos organizados, é hora de enviá-lo ao órgão responsável pela autuação. Geralmente, isso pode ser feito presencialmente no departamento de trânsito local ou online, dependendo das opções disponíveis em sua região.

Após o envio, não se esqueça de acompanhar o processo. Acompanhe o status do seu recurso através do site do Detran ou do órgão de trânsito que emitiu a multa. Fique atento ao prazo de resposta e esteja preparado para fornecer informações adicionais, caso solicitado.

Erros comuns ao fazer recurso de multa

Recorrer de uma multa de trânsito é um direito garantido pela legislação brasileira, mas muitos motoristas cometem erros que podem comprometer suas chances de sucesso. Veja os principais e como evitá-los:

Utilizar argumentos fracos ou irrelevantes

Muitas pessoas acabam apresentando justificativas emocionais, como “não era minha intenção” ou “estava com pressa”, que não têm respaldo legal e não convencem os avaliadores. É crucial que os argumentos sejam baseados em fatos concretos e em evidências.

Além disso, é importante que o motorista se concentre nas questões específicas da notificação de autuação. Argumentos que não abordam diretamente a infração ou que são irrelevantes para o caso podem ser facilmente desconsiderados. O ideal é apresentar uma defesa bem fundamentada, citando o Código de Trânsito Brasileiro e destacando eventuais falhas no processo de autuação.

Perder o prazo de envio do recurso

Outro erro que pode ser decisivo é deixar de observar os prazos para envio do recurso. A legislação brasileira estabelece prazos específicos que variam conforme o órgão que emitiu a multa, mas geralmente o motorista tem entre 15 e 30 dias a partir da notificação para apresentar a defesa. A perda desse prazo pode resultar na aceitação automática da multa, independentemente da validade dos argumentos que você poderia apresentar.

Para evitar esse problema, é aconselhável que o motorista anote a data de recebimento da notificação e faça um cronograma para garantir que o recurso seja enviado a tempo. Além disso, certifique-se de utilizar um meio de envio que comprove a data de postagem ou protocolo, caso necessário.

Não anexar todos os documentos necessários

A falta de documentação é um erro crítico que pode levar à rejeição do recurso. Muitos motoristas, na ânsia de contestar a multa, esquecem de anexar documentos essenciais, como a cópia da notificação, da CNH e do CRLV. A ausência desses documentos pode ser usada como justificativa para indeferir o recurso, independentemente da validade dos argumentos apresentados.

Para evitar essa armadilha, elabore uma lista de verificação dos documentos exigidos e revise-a cuidadosamente antes do envio. Certifique-se de que todos os documentos estejam completos, legíveis e atualizados, garantindo que a argumentação esteja bem sustentada por provas.

Quanto tempo demora para receber a resposta do recurso de multa?

Após enviar um recurso de multa, é natural que os motoristas fiquem ansiosos para saber quanto tempo levará até receber uma resposta. O prazo para a análise do recurso pode variar conforme o órgão responsável e a complexidade do caso em questão.

Na primeira instância, a análise do recurso costuma levar entre 15 a 30 dias. Esse período pode ser influenciado pela quantidade de recursos que o órgão de trânsito está processando e pela dificuldade da infração. Durante esse tempo, os responsáveis pela avaliação examinarão a documentação apresentada e os argumentos do motorista, garantindo que todas as informações estejam corretas.

Se o recurso for indeferido, o motorista ainda tem a opção de recorrer à segunda instância - JARI. O prazo para a resposta nesta fase tende a ser um pouco mais longo, variando de 30 a 60 dias. Esse tempo adicional se deve ao fato de que a revisão pode exigir uma análise mais detalhada e, em alguns casos, audiências, caso sejam solicitadas.

Enquanto aguarda a resposta do recurso, o motorista pode tomar algumas atitudes. Uma delas é acompanhar o status do recurso, já que muitos órgãos de trânsito disponibilizam plataformas online para consulta. Isso facilita o monitoramento do processo.

Além disso, é recomendável revisar os documentos que foram enviados, certificando-se de que não há necessidade de incluir informações adicionais. Se a resposta demorar mais do que o esperado, pode ser útil entrar em contato com o órgão de trânsito para verificar a situação.

Outro ponto importante é planejar o pagamento da multa. Embora o recurso esteja em análise, é essencial estar ciente de que a multa pode acumular juros e penalidades se não for paga dentro do prazo estabelecido. 

Se a análise se estender, o motorista pode considerar o pagamento da multa para evitar complicações, lembrando, entretanto, que ao fazer isso, estará abrindo mão do direito de contestação. Uma alternativa viável pode ser solicitar a suspensão do pagamento até que uma decisão sobre o recurso seja alcançada.

Diferença entre recurso de multa e conversão da multa em advertência

Ao receber uma notificação de multa, o motorista pode se deparar com duas opções: recorrer da multa ou solicitar a conversão da penalidade em advertência. Ambas as alternativas possuem características distintas, que podem influenciar a decisão do condutor dependendo do contexto em que se encontra.

Quando é possível solicitar a conversão da multa em advertência

A possibilidade de solicitar a conversão de uma multa em advertência está prevista no CTB. Essa conversão pode ocorrer em situações específicas, como quando se trata de uma infração leve ou média, e quando o motorista é primário — ou seja, não possui outras infrações registradas nos últimos 12 meses.

Para solicitar essa conversão, o motorista deve apresentar o pedido durante o processo de defesa, explicando os motivos que justificam a solicitação. Vale ressaltar que, em geral, essa opção é mais viável para infrações que não resultem em pontos na CNH, pois uma advertência não implica em penalização, mas sim em uma orientação sobre a conduta a ser adotada.

Diferença entre as duas opções

A principal diferença entre fazer um recurso de multa e solicitar a conversão em advertência reside no foco e nas consequências de cada ação. Ao recorrer da multa, o motorista está contestando a validade da infração, buscando a anulação da penalidade com base em argumentos e evidências. O objetivo é reverter a multa e, possivelmente, evitar a pontuação na CNH, caso o recurso seja aceito.

Por outro lado, ao solicitar a conversão em advertência, o motorista não está contestando a infração em si, mas sim pedindo que a penalidade seja suavizada. A advertência, nesse caso, serve como um aviso sobre o comportamento inadequado, mas não resulta em pontos na CNH, o que pode ser uma vantagem em termos de manutenção da habilitação e do histórico do motorista.

Qual é a mais vantajosa dependendo do caso?

A escolha entre fazer um recurso de multa ou solicitar a conversão em advertência depende de diversos fatores. Se o motorista acredita que a infração foi injusta ou que há argumentos sólidos que podem comprovar sua inocência, recorrer da multa pode ser a melhor opção. Isso é especialmente relevante se a penalidade imposta for severa, como multas altas ou a perda de pontos que podem resultar na suspensão da CNH.

Por outro lado, se o motorista é primário e a infração cometida é considerada leve ou média, a conversão em advertência pode ser a alternativa mais vantajosa. Essa opção permite ao condutor evitar a pontuação e, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de refletir sobre a importância de respeitar as regras de trânsito, sem as consequências mais severas de uma multa.

Consultoria especializada: vale a pena contratar para fazer o recurso de multa?

Ao receber uma notificação de multa, muitos motoristas se questionam se a contratação de um serviço especializado é uma decisão sensata. Embora seja possível lidar com o processo de defesa de forma autônoma, contar com a orientação profissional pode trazer várias vantagens, especialmente em situações mais complicadas.

Uma das principais vantagens de ter a assistência de uma consultoria ou advogado é o conhecimento técnico e jurídico. Um profissional especializado em direito de trânsito está familiarizado com a legislação brasileira, incluindo o CTB e as normas administrativas relevantes. Essa expertise permite que o advogado identifique eventuais falhas na autuação, além de encontrar evidências que possam ser usadas a favor do motorista, algo que pode passar despercebido por quem não tem formação na área.

Cada infração tem suas particularidades, e um especialista pode examinar a situação de maneira minuciosa. Ele pode descobrir se houve erros na notificação, irregularidades no processo ou até mesmo se a infração pode ser contestada por motivos técnicos, como a validade do equipamento que registrou a infração ou a sinalização do local.

Outro ponto importante é a redação do recurso. A maneira como a defesa é escrita pode influenciar significativamente as chances de aceitação. Um advogado sabe como estruturar o documento de forma adequada, utilizando a linguagem jurídica correta e apresentando argumentos de maneira clara e concisa. Isso aumenta as probabilidades de sucesso no recurso.

O acompanhamento do processo também é uma vantagem de contar com um advogado. O procedimento de análise do recurso exige atenção a prazos e formalidades específicas. Um especialista pode garantir que todas as etapas sejam seguidas corretamente, evitando erros que poderiam resultar na perda do direito de defesa. Ademais, o advogado pode interagir com o órgão responsável para obter atualizações sobre o andamento do processo.

A contratação de um advogado é especialmente recomendada em algumas circunstâncias. Por exemplo, se a multa é de valor elevado ou envolve a perda de pontos significativos na CNH, a ajuda de um especialista pode ser crucial para evitar consequências mais severas. Da mesma forma, motoristas que já têm outras infrações em seu histórico podem se beneficiar do auxílio de um advogado para proteger sua reputação e evitar a suspensão da habilitação.

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